domingo, 6 de novembro de 2011

Eu sei, mas não devia.

Eu sei, mas não devia

Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

sábado, 27 de agosto de 2011

Testemunho de Baden Powell

Folha de São Paulo de terça-feira de 13 de julho de 1999.


São Paulo, Terça-feira, 13 de Julho de 1999, por Pedro Alexandre Sanches, da Reportagem Local.

O violonista carioca Baden Powell, 61, que prepara um disco só com sobras do compositor João Pernambuco, durante entrevista num quarto de hotel em São Paulo. Fora de catálogo no país, violonista-símbolo da bossa nova grava em surdina e faz poucos shows no Brasil. Enquanto João Gilberto ganha páginas de revistas de fofoca ao gravar um novo disco cercado de mistério, sob produção conturbada de Caetano Veloso, outra das pedras de força da bossa nova, o também violonista -e compositor- Baden Powell freqüenta os estúdios de gravação. Em silêncio. Quase totalmente esquecido no mercado fonográfico nacional, o carioca Baden Powell, 61, grava, por encomenda do Sesc e sem previsão de lançamento, um álbum todo dedicado à obra do violonista pernambucano João Pernambuco (1883-1947), co-compositor nem sempre creditado do clássico "Luar do Sertão". De gravações muito esporádicas no Brasil nesta década, Baden mantém-se objeto de adoração em países como França e Japão, onde, bem diferentemente do Brasil, toda sua obra anterior permanece em catálogo e sempre há um selo disposto a registrar qualquer novo trabalho seu. Vivendo entre o Rio de Janeiro e o mundo, é mais um (auto) exilado da miséria cultural brasileira. Músico por excelência e sem perfil de astro pop, Baden mostra-se também, como não poderia deixar de ser, avesso à mídia. Ainda assim, falou à Folha e expôs um pouco de sua personalidade esquiva, de antiestrela.

Folha - Como era viver no mundo sem bossa nova, antes de ela ter aparecido?

Baden Powell- Era ótimo. A bossa nova foi um movimento bom, né? Para mim foi uma continuação da vida. Sou músico (silêncio). Estou tentando alcançar o que você está querendo falar.

Folha - Por exemplo, quem o influenciou musicalmente, o ensinou a gostar de música?

Baden- Ninguém. Ninguém. Ninguém. Ninguém ensina isso. Você aprende é um instrumento, mas a gostar e fazer, ninguém. Isso é um dom, você nasce com ele. Ninguém aprende a gostar, a amar. É coisa do seu coração.

Folha - Não é todo mundo que aprende, pratica e ajuda a inventar um padrão novo de música, que antes não existia.

Baden - Não, essas invenções... É uma coisa natural. O que foi muito bom é que foi um movimento de jovens e foi na mesma época do movimento dos Beatles. Tinha uns anos de diferença, mas era uma mesma geração. Elvis Presley, a juventude transviada, foi tudo uma mesma geração.

Folha - Você acompanhava esses movimentos pop?

Baden - Não, mas os jornais davam. Eu não gostava, não. Não era minha linha. Essa música não tem conteúdo nenhum, meu filho. Isso é uma música de caubói, se você quer saber. É música caipira com letra em inglês. Os Beatles foram um pouquinho melhores. O que trouxe foi que essa geração não tinha uma música própria, dela. Tinha bolero, tango, música mexicana, que era música de adulto. Os jovens de 8 até 16 anos, os jovens do topetezinho, não tinham a música deles.

Folha - A bossa nova não era música de adulto?

Baden - Não. Era de jovem.

Folha - O jovem gostava de Beatles e bossa nova?

Baden - Ué, o que é que tem? Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Não. Absolutamente nada, nada, nada. Não faça confusão de música ruim com música boa. A música de Carnaval também é porcaria, mas tem sua hora e sua razão. O jovem dessa época não ia à boate. Era coisa de velho que carregava sua amante e só dançava tango. Quando os moderninhos apareceram, a música começou a mudar também. Virou uma coisa mais lírica, mais de namorado, romântica. E onde tem jovem tem revolução. Sem juventude não tem revolução. Se rock é música ruim, isso é outro departamento. Esse negócio de rock é para criança.

Folha - A revolução da sua geração destituiu Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Orlando Silva. O que você achava deles?

Baden - Mas você acha que eu seria um exemplo? Fico assim de responder, porque sou músico. Nasci com o dom da música. A minha opinião não vai valer, não vai explicar nada. Meu pai fazia serenata tocando aquelas coisas do tempo do João Charuto. Para mim música é lindo, tanto velho como nova. Era bonito. Com 10 anos, eu já viajava com tudo quanto era artista, acompanhando música cubana, italiana, o que fosse. Já sabia acompanhar tudo. Com 12 anos, conhecia o Brasil todo. E estudava violão clássico. Meus vizinhos eram Pixinguinha, Jacob do Bandolim. Ia à igreja, o padre contratava Cyro Monteiro e Dalva de Oliveira, quem ia acompanhar era eu. Ao mesmo tempo, eu ligava rádio e escutava Glenn Miller, Tommy Dorsey. Eu gostava, tinha intuição musical. Por isso eu não sirvo de exemplo. Eu não dançava, não suportava baile, nem cantava, nem gostava de troço de música caipira, desde criança. Iam me buscar na minha casa. Era menino-prodígio, mas não me considero nada disso. Não sei se meu exemplo serve. Não sou eu que escolho a rua em que vou passar, não. A gente vai pela vida e aprende a caminhar. Bossa nova para mim é coisa de rotina. Apareceram uns jovens aí, fizeram uma revolução. Vai ter outra agora, sem querer, dos jovens. É natural. Essa música brasileira que está aí, de fundo de quintal, não está agradando aos jovens. Pode agradar uma parte, mas é muito de mau gosto. De mau gosto. Não tem mensagem nenhuma. É ruim. E tudo que é ruim é maioria. Sempre foi assim. A maioria do Brasil é subdesenvolvida, você não pode fazer nada, tem que esperar.

Folha - Nesse sentido, então, a bossa nova nunca dominou?

Baden - Não. Dominou os jovens que são abertos. Aqueles que
não são não têm bala na agulha para competir. Se deixar na mão deles, eles
não fazem nada. A chance foi dada, está aí, o fundo de quintal. Não fizeram
nada. Estão fazendo música de porcaria. Eles não têm capacidade, não têm
intelecto e estão muito aquém. A bossa nova nasceu lá na zona sul do Rio,
intelectualmente...

Folha - Entre pessoas que não eram pobres...

Baden - Não sei se a pobreza tem algo a ver. Não deve
misturar. É coisa de intelecto. Eram mais abertos. Esses daqui não têm nem
violão nem compõem nada. Vai ser uma coisinha, mas não tem conteúdo nenhum. É feito sorvete, se botou no sol derrete e não sobra nada. Se por acaso
você desligar, eles somem e daqui a duas semanas você não lembra nem o
nome. Não deixa saudade nenhuma, porque não tem valor. É o que chamo de
falso valor. Porque tem uma garotada que tem valor.

Folha - Quem?

Baden - Vários. Os fãs que vão me visitar, garotos que compõem e tocam, sabem ler música, tocam instrumento, estudam, têm método de música. Só não têm é chance em TVs, em gravadoras. O pagode tem uma grande chance. Já pensou se fossem inteligentes, o que não iam fazer?

Folha - O momento político do país interfere nisso, não?

Baden - Não, são mais as televisões. Eles cortam a cultura propositalmente. As multinacionais, essa cultura de pagode.

Folha - O governo?

Baden - Não, o governo não tem nada a ver.

Folha - Ele não tem responsabilidade pela educação?

Baden - É, mas não sei se isso é um negócio proposital. O que toca na rádio, que vende, de gravadora, de editora, não está na mão deles. Por exemplo: não existe um disco meu na praça. Tenho mais de 25 discos na PolyGram (hoje Universal). Não existe um na praça, quero até mover um processo. Fui lá, perguntei por que lançam lá fora e não aqui. Não souberam responder. É proposital. Eles querem manter esses países feito o Brasil lá embaixo. Me considero numa ponte que vai ligar a música popular à erudita. Esses eles cortam.

Folha - Você teve problemas políticos no regime militar?

Baden - Eu, não! Nunca tive problema político nenhum. Nunca me meti. Só por trás. Nunca fui de direita, sempre fui um cara de esquerda. (Pega o violão, a pedido da fotógrafa.)

Folha - Um violão é diferente dos outros ou são todos iguais?

Baden - Claro que é diferente, rapaz (dá risada)! Mas é mais ou menos igual. A medida do braço, o som, o timbre são mais ou menos iguais. Não pode ser muito diferente. Um é mais doce e tal... Esse que estou usando agora é de um músico da Argentina que virou carpinteiro de instrumentos. Cortou a árvore e tudo, disse que fez pensando em mim esse violão. Peguei o violão, toquei e não achei lá essas coisas, não. Agradeci o violão. Mas um dia, quando cheguei em casa, comecei a estudar nele um pouquinho e fiquei enamorado do instrumento. Aí começou a responder ao som que eu gostaria. Aí ficou, até hoje. Violão tem essas histórias.

Folha - Você se considera um músico erudito ou popular?

Baden - Isso é um negócio interessante. Eu acho que minha música vai mais para o erudito-popular. Erudito quer dizer sábio. Não é aquele erudito que não é popular, o erudito impopular, mas sim a composição difícil, com temas difíceis, o erudito-popular. Não chega a ser aquele clássico que você não entende nada. Mas todo clássico pode vir a ser popular, e todo popular pode vir a ser clássico. Há certos choros que são difíceis, parece música erudita. Os choros de Villa-Lobos... Eu mesmo tenho algumas composições de choro erudito. Não é algo de que o povo participe.

Folha - Se considera sambista?

Baden - Sambista eu sou, porque tenho uma noção de ritmo muito grande. Está no meu sangue. Quando eu era criança, no bairro em que fui criado, São Cristóvão, batia um tamborim arretado, nos blocos de rua. Tenho ritmo na mão para tamborim, surdo, desde pequeno. Acho que transferi isso para a minha batida de samba no violão. Eu realmente não danço, olha que
engraçado. Mas tenho um ritmo por dentro fora do comum. Então sou sambista. Inclusive quando componho samba, é samba-samba. Samba com cara de samba, "quaquaraquaquá, quem riu/ quaquaraquaquá, fui eu", sambão. Isso eu tenho.

Idiossincrático, Baden Powell hoje desdenha, em parte, parte de sua obra. Convertido evangélico, diz que não toca mais alguns dos afrossambas que fez com Vinicius de Moraes, como "Canto de Iemanjá", pela identificação que guardam com o candomblé. Ao ver a capa de um dos poucos títulos seus em catálogo no Brasil em CD, com uma moça sorridente ocupando a capa, esbraveja: "Não sei o que é isso. Nunca vi esse disco na minha vida". Trata-se de uma das capas com que foi lançado "Love Me with Guitars" (69). E este é, com "La Grande Reunion" (74, um disco gravado em parceria com o violinista Stephane Grappelli), um dos únicos títulos originais em catálogo no Brasil. Foram relançados, de forma precária e semi-independente, pelo selo Imagem. Leia a continuação de sua entrevista, em que fala sobre seu relacionamento com os afro-sambas.


Folha - De onde vem o lado afro dos afro-sambas?

Baden Powell - Já está na veia. Afro é todo o Brasil. Está dentro da gente. Eu e Vinicius gostávamos. Nessa época eu estava estudando os cantos gregorianos, os modos litúrgicos. Fazia composições em cima deles, quando estudava com Guerra Peixe (arranjador e regente do LP "Os Afro-Sambas", de 66). Os cantos africanos são idênticos aos gregorianos, é impressionante. Não sei por que é assim, parei de estudar isso. Porque sou evangélico agora. Os caras pensam que fizemos música para macumba, candomblé. Não tem nada disso, não. É coisa de cultura.

Folha - Qual era sua religião na época?

Baden - Não, não tem nada a ver. Podia ser o que fosse. Vinicius era ateu. Não precisa ficar embaixo da macumba para poder tocar violão. Tem é que estudar, não pense que vai tomar duas garrafas de cerveja e sair tocando violão. Não vai acontecer nada. Sempre tive uma simpatia por aquele negócio de macumba, candomblé. Como todo católico, né? Daí nasceram os cantos que comecei a fazer com berimbau. Fiz um exame com Guerra Peixe com um canto gregoriano, vi que parecia um canto de sereia do mar. Aí virou "Canto de Iemanjá". É uma imagem que existe no Japão, na China, há mais de 10 mil anos. Afro-samba é um tipo de música que existe no Brasil, como o samba lento, o samba-canção, o samba de Carnaval, o samba-choro, o samba-lamento... Esse último é ligado ao afro-samba, que tem aquela escuridão do afro, o lamento. Ficou esse estigma, mas nossos afro-sambas não inventaram nada. Agora estou fazendo um outro estudo sobre cantos gregorianos, para uma série de músicas evangélicas.

Folha - Aí entra o afro de algum jeito também? Sua religião não gosta muito disso.
Baden - Tem de entrar. Eu não tenho religião.

Folha - Você disse que era evangélico.

Baden - Sou evangélico. Minha religião é Cristo. A briga dos evangélicos é com o candomblé mesmo, não com a música. Você pode tocar o que quiser.

Folha - Por que você virou evangélico?

Baden - Por quê? Sabe por que eu fiquei evangélico? Porque quis saber demais. Assim como fui à procura dos afros, continuei querendo a sabedoria. Quando cheguei lá num ponto de sabedoria, vi que esse negócio de candomblé é uma grande mentira. Aí parei.

Folha - Você gravaria os afrossambas hoje em dia?

Baden - Gravo. Só alguns não posso gravar, né? O "Samba da Bênção", por exemplo. Não digo mais saravá. Posso tocar o "Samba da Bênção", mas não falo saravá, porque é um louvor a satanás.

Folha - Critica quem o faz?

Baden - Não, meu filho. Não critico, não. Isso é uma questão de sabedoria. Não posso louvar, mas posso falar sobre o caso e tudo. Está entendido? "Berimbau" e "Consolação" são afrossambas, posso fazer. "Canto de Iemanjá", não, estaria contribuindo para uma coisa errada. A música se existe, ela existe, não tem problema. Posso tocar no violão, mas não é o caso. Não é proibido, interditado, nada disso. Posso até falar muito bem, mas não louvo.

Folha - Você conhece as gravações dos afrossambas por Paulo Belinati e Mônica Salmaso?

Baden - Conheço. Muito bom. Muito bom. Eles exaltaram. Isso aí faz parte da literatura brasileira. Não pertenço à religião deles, isso é uma coisa separada. O que não pode é dividir, ser isso aqui e ir também à macumba.

Folha - Qual é seu ritmo atual de composição?

Baden - Tenho composto pouco e gravado pouco. Não estou me situando para que lado vá a música. Esse negócio de fundo de quintal está esquisito. Como compositor, conheço muito bem meu país. Nada me surpreende, mas é uma pena. O CD que foi feito aqui, com meus filhos (em 95, pela Cid), me deixou uma espinha atravessada na garganta. Não gostei, não está bom. Erraram a capa. É mal gravado, malfeito, mal dirigido, mal tudo. Aí fui ao Japão e
gravei outro para lavar a alma.

Folha - Por que você está gravando discos com seus filhos?

Baden - Porque é minha obrigação ensinar os bichinhos a engatinhar, né? Tocam bem, merecem.

Folha - Você trabalhou pouco com Tom Jobim e João Gilberto.

Baden - Sim. Nem tinha como. Tom Jobim era compositor, eu também. João Gilberto é violonista, eu também. Trabalhei muito com Tom em bastidores, na casa dele, escrevendo arranjos. Amizade, eu tive muita. Sou amigo do João. Ele dificilmente sai, falamos umas duas vezes por ano. Tenho muito poucos amigos músicos. Minha atividade é um pouco solitária.

Folha - Houve períodos com parceiros definidos, como Vinicius e Paulo César Pinheiro.

Baden - Sim. A gente precisa de letras. O compositor sabe a música que é para ser instrumental e a que é para ser cantada. Quando é para ser cantada, a gente procura um letrista que seja parceiro e amigo, que tenha uma grande intimidade. Senão, não sai legal.

Folha - Como é esse disco que você está gravando?

Baden - É um disco de estúdio sobre as composições de João Pernambuco, o SESC pediu. Mas preciso acabar essa entrevista.

terça-feira, 8 de março de 2011

Tentativa sonética nº 1 - Agosto de 2005

Não basta um universo de talentos
Se afim de que escreva palavra nua
Em poesia, oh, formosa Lua!
O meu ardor por teus encantamentos

Se me fazes arder em necessidade
De respirar-te todos os momentos.
Momentos plenos em felicidade
Afastando taciturnos sofrimentos.

Eu te rogo, argêntea Lua,
Qu`em meu ceu vermelho e arfante,
Permanecas tu sempre reinante.

`Inda que nunca sejas minha,
`Inda que a alma leve `a definha
Beberei sempre teus encantos de lua.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Receita d'amor

Eu quero um amor formatado,
Bem medido e articulado
Na régua tracejada,
E que os riscos sendo ínfimos
Em igual compartilhados
Pra que as partes não se sintam
Mutuamente ameaçadas.
Até a loucura, anti-monotonia,
Lhe seja bem dosada
Como receita de homeopatia
Que os espaços sejam sacramente respeitados.
Os papéis devidamente definidos
E as surpresas previamente avisadas.

Quem, pois, viverá um amor assim?
Pois, se não é, o amor, a paixão cega que nada vê e logo esvai,
Também não é premedição razoável que do risco foge.

Ledo engano

Quem proferiu esta mentira?
Disparate de arte concreta!
Um jovem no clamor de sua ira
Sentenciando que a poesia liberta!